O longo caminho para casa

Doze horas de ônibus, um avião vira o mundo em doze horas. Artaxerxes não sabia disso, mas foi o tempo que demorou na estrada. Foi o tempo que demorou a deixar pau santo para trás. Uma Cidade, um Município, talvez uma Vila? Ou melhor um vilarejo. vilarejo perdido entre o tempo e outras cidades de nomes e tamanhos mais significantes.

pau santo é uma árvore pequena, nativa do México. Foi o que disse o Padre. Era o que ele sabia, pau santo era o nome de uma árvore e também de sua cidade, do seu Vilarejo. Uma letra maiúscula não cabia no nome, mas ele colocava mesmo assim. pau santo era como o seu próprio nome; Artaxerxes. Nome de rei, mas ele era tão pequeno no Vilarejo tão pequeno que não caberia a ele uma letra maiúscula no seu próprio nome. Mas ele colocava mesmo assim. Afinal era também o nome de um rei.

Das doze horas que demorou para sair, cinco foram gastas a pé. Atravessando pastos e cidades, outras cidades com pastos maiores que a sua cidade. Que o seu Vilarejo.

O Vilarejo pequeno, que foi deixado para trás, tinha… Tem, outras pessoas. Algumas mais significantes que Artaxerxes, mas que ficaram lá. Das que ficaram, uma era especial. Valquíria, nome de guerreira. Mas a Valquíria que ficou não quis guerrear. Para ela pau santo era suficiente. Mas ele foi atrás de letras maiúsculas, precisava de mais. Não queria ser mais um sapinho, num brejo pequeno. Queria crescer.

E CHEGOU O ÔNIBUS

Quando subiu a pequena escada, e tirou os pés da terra, se deu conta. Sua terra agora seria outra, o que ficou com ele foi só poeira. Até Valquíria, que não quis guerrear ficou nos pedaços de barro deixados pela botina carregada da sua terra, que mesmo batida na base da escada, não ficou mais leve.

Achou um assento entre uma mulher gorda, enorme, e uma criança também gorda. Ambos olharam o rapaz de terra, que cheirava cinco horas de pasto, e de nariz torto, emagreceram-se em seus cantos.

O mundo das rodas ganhava mais chão que seus pés, bom agouro, sua vida correria mais agora. Pela janela cruzava chãos maiores que pau santo, que os pastos das cinco horas, que os seus pensamentos, que voavam sem fronteiras, atravessando cercas que não lhe diziam mais respeito. Agora só carregava consigo uma letra maiúscula, a sua.

Das doze horas que formaram seu trajeto total, já se passara oito. A noite caía e ainda podia sentir o cheiro da sua terra, os outros cheiros ainda estavam longe. Como seriam estes outros cheiros, teriam sabores diferentes, mais amargos talvez. Maiores com certeza. Adormeceu com seus pensamentos e sonhou com Valquíria.

O DIA ACORDOU ESCAPANDO PELA JANELA QUE FICOU ABERTA

Seu rosto estava vermelho quando o sono foi embora, e quando viu uma terra que não tinha terra. O chão era mais duro e o ônibus corria melhor, mais rápido. O vento entrava pela janela como uma tempestade sem água. Seus olhos secaram. Pensou em fechar, mas o calor era insuportável, maior que o dos pastos, estes ainda tinham alguma sombra.

O cheiro era forte e pegava muita fumaça. Não era a do ônibus, este ele já tinha se acostumado. Os rios cheiravam mal, eram mais escuros e a água não corria.

A linha reta da estrada desapareceu e curvas com casas e ruas surgiram num caminho desconhecido. Muitas casas pobres, algumas nem eram casas. Prédios aos montes, na sua cidade tinha um, mas era bem menor que todos estes.

Semáforos paravam o ônibus de tempos em tempos. Tudo ficou mais lento, o calor não ajudava, estava preso a um forno de merda e rodas, rodas que não rodavam. E ficou assim por quase uma hora.

E NA RODOVIÁRIA

Todos desceram, inclusive a mulher gorda e o menino. Ficou lá algum tempo até fosse expulso e jogado à sua sorte na cidade, esta sim com letra maiúscula, que devorou todos que saíram do ônibus.

Na rua só caras novas. De conhecido, só o seu nome, uma pequena trouxa e a saudades de Valquíria.

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