Mulheres de Cinza – Mia Couto

“A diferença entre a Guerra e a Paz é a seguinte: na Guerra, os pobres são os primeiros a serem mortos; na Paz, os pobres são os primeiros a morrer. Para nós, mulheres, há ainda uma outra diferença: na Guerra, passamos a ser violadas por quem não conhecemos. ”

As piores fronteiras são as que não podem ser vistas, que habitam o inconsciente vestidas de uma certeza quase que divina.

São estas as fronteiras exploradas por Mia Couto em seu livro Mulheres de cinzas. O livro tem como pano de fundo os derradeiros anos do Império de Gaza, que hoje compõe o sul de Moçambique.

Mia Couto nunca se definiu como um escritor histórico, no entanto a trilogia “As areias do Imperador” pode representar uma nova fase na vida literária do escritor.

Em Mulheres de Cinzas há uma narrativa dupla: a primeira voz é a de Imani, africana dona da frase que começa esta resenha. Imani, segundo ela mesma, significa em sua língua “Que é?”, quando se bate à porta e o outro pergunta, Quem é? Ou em sua língua: Imani?

Este é o seu nome, uma indagação, sua identidade é uma pergunta, que lhe dá a pecha de um ser sem corpo, uma sombra eterna à espera de uma resposta.

A segunda voz é branca. Ela pertence ao Sargento Germano, ele ganha a simpatia de muitos por não ter uma atitude comum aos outros portugueses. Enquanto os outros obrigavam os nativos que os carregassem como cavalos de liteiras, este andava com suas próprias pernas.

Germano e Imani se apaixonam. Um romance que vencerá uma das muitas fronteiras invisíveis e imutáveis entre brancos e negros, entre dominadores e sombras engolidas pela inevitabilidade serem pobres em uma guerra cruel.

A narrativa de Mia Couto

Ler um livro deste continente, principalmente para nós brasileiros, remete a uma sensação ambígua de desconhecido e familiar. A relação entre raças se dá de maneiras semelhantes embora a força com que isto acontece seja particular em cada continente.

A África com todos os seus países e matizes, esbarra muitas vezes em similaridades, as vezes desconfortáveis. Moçambique na voz de Mia Couto, vem com uma poesia tão sublime que torna estas similaridades e diferenças mais doces.

O fantástico também vem em seu livro. Os mortos se livram de uma fronteira intransponível para nós ocidentais, e voltam de seus túmulos para viver entre os seus. Como o avô de Imani, que vive por baixo da terra, escavando até onde pode.

Há ainda o soldado português, que carrega moscas dentro de si, devido a sua podridão. Todos símbolos de guerra, morte, soldados e armas. Todos gritam como a espingarda que traz em si os ecos das vozes de seus mortos.

E assim Mia Couto faz seu romance “Mulheres de Cinzas”, uma leitura que apenas quebra linhas invisíveis, que insistem em existir com o nome de fronteiras.

Boa leitura.

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